quarta-feira, 25 de junho de 2008

Aids e Gravidez

Por Ana Paula Morales


Cerca de 25 portadoras de HIV são atendidas semanalmente na Divisão de Obstetrícia do Centro de Assistência Integral a Saúde da Mulher (CAISM), na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Às segundas-feiras são atendidas as mulheres grávidas e, nas sextas-feiras, são realizados atendimentos ginecológicos de forma geral.

O CAISM oferece um tratamento diferenciado para gestantes soropositivas, uma vez que lá a paciente infectada faz o pré-natal juntamente com outras grávidas e o infectologista vai atender na área de obstetrícia – e não o contrário, como ocorre em outros serviços de saúde. A importância desse tipo de atendimento é que, segundo a Dra. Eliana Martorano Amaral, diretora da Divisão de Obstetrícia, dessa forma a grávida se sente mais à vontade. “Lá, ela é grávida e portadora de alguma doença, como tantas outras são”, comenta.

Segundo a Dra. Eliana, dois principais aspectos têm sido observados ultimamente durante o acompanhamento das gestantes HIV+. O primeiro refere-se ao aumento progressivo do número de mulheres com mais de 40 anos portadoras do HIV, já que diversas “mulheres que foram infectadas jovens hoje chegam na casa dos 40 anos”, comenta. No entanto, esse número cresce também para os diagnósticos recentes.

Outro aspecto comentado pela médica é o aumento na demanda de casais soropositivos que querem ter filhos. Geralmente essas pessoas receberam tratamento de longa duração e por isso se sentem bem. No entanto, este tipo de decisão envolve uma série de dilemas que envolvem aspectos relacionados tanto com a saúde física dos pais e da criança, quanto com a saúde psicológica dos envolvidos. Além disso, é importante frisar que não há um tratamento específico no sistema público de saúde do Brasil para reprodução assistida junto a casais portadores do HIV.

No caso de gravidez de mulheres que são portadoras recentes do vírus HIV, a adaptação ao tratamento geralmente é boa, mas sempre existe o impacto emocional: a mulher descobre estar grávida e, ao mesmo tempo, ser portadora de uma doença crônica, que trará uma série de conseqüências. Na maioria dos casos, a gravidez acaba acelerando o processo de recuperação do impacto emocional e facilitando a aceitação, já que existe uma grande preocupação com a criança.

Foi o que aconteceu com J.S.M., 26 anos, moradora da região de Campinas, que teve sua soropositividade diagnosticada na primeira gravidez. Com um passado conturbado, que incluiu uma fase de revolta em relação à doença e de entrega à prostituição, a jovem teve uma mudança de comportamento durante a gravidez, com o objetivo de garantir a saúde do filho.




O tratamento tríplice, ou seja, com três tipos de agentes anti-retrovirais, já é consenso para mulheres grávidas portadoras de HIV. Esse tipo de tratamento reduz o risco de infecção vertical (da mãe para a criança) para 0% a 3%. Quando nenhum tipo de tratamento é realizado, a taxa de infecção vertical é de 16% a 25% e, se somente o AZT é utilizado no tratamento, essa taxa é de 8%.

O contágio da criança geralmente ocorre no final da gravidez e no parto. Cálculos indiretos sugerem que 70% dos casos de infecção ocorrem na hora ou nos momentos próximos ao parto.

Contracepção em mulheres portadoras de HIV

Ainda existem dúvidas em relação a um possível efeito dos agentes anti-retrovirais na contracepção. Existe a hipótese de que o uso de anti-virais levaria a uma maior metabolização de hormônios contraceptivos, anulando o seu efeito. No entanto, não existem dados conclusivos na literatura, já que tanto as respostas aos anti-retrovirais quanto as respostas aos hormônios são muito irregulares.

O mesmo tipo de orientação dado para mulheres normais é dado para as mulheres infectadas. A orientação contraceptiva muda somente em alguns casos, geralmente quando a paciente tem outras doenças que contra indicam o uso de hormônios, como o hepatite, por exemplo, mas não não em decorrência do próprio HIV.

No vídeo que segue, a Dra. Eliana Amaral orienta as providências que devem ser tomadas quando ocorre o diagnóstico positivo para infecção por HIV em gestantes e, ainda, esclarece quais são os fatores de risco associados à transmissão vertical – da mãe para o bebê.




Um comentário:

Andrea disse...

Parabéns pela reportagem!!! Muito esclarecedora. Não sabia que o tratamento em gestantes soropositivas era tão eficaz. Continuem divulgando esse tipo de informação para que cada vez menos crianças sejam infectadas verticalmente. Tenho apenas uma correção: no penúltimo parágrafo a palavra "não" foi digitada duas vezes. Estou esperando pela próxima reportagem, e mais uma vez, parabéns pela iniciativa.